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quinta-feira, 7 de junho de 2012

Post final

Até aqui viajamos juntos. 

Passaram montanhas e montanhas, corredeiras e rios, bosques e florestas... 
Não faltaram os grandes obstáculos. 
Freqüentes foram as mãos ajudando a transpor abismos... 
As subidas e descidas foram realidade sempre presente. 
Juntos, percorremos retas, nos apoiamos nas curvas, cruzamos pontes e descobrimos pequenos vilarejos... 
Cruzamos trilhas com pedras, trilhas de pedras e pedras sem trilhas.
Protegi minha mulher e ela me protegeu, aumentando a cumplicidade do nosso amor de tantos anos. 
O corpo penou, o oxigênio se rarefez, e cada passo foi mais um sacrifício.
No final de cada dia, exaustos, nos surpreendíamos com os feitos daquela jornada, descobrindo que nossos limites estão muito além do ponto que imaginávamos e, felizes, ríamos muito pela descoberta.
E o nosso espírito voou sobre as montanhas, os nossos sentidos vibraram a cada paisagem e os nossos corações transbordaram de emoções.
Chegamos onde nunca imaginamos, mas que sempre sonhamos, em chegar: pertinho do topo do mundo!
Em nossa mente restará, indelével, as lembranças do Himalaia e de sua gente.

Agora é o momento de cada um seguir  a sua viagem... 

Que as experiências compartilhadas no percurso até aqui sirvam, para todos,  como um bastão de caminhada, auxiliando a alcançar novos destinos sonhados. 
A nossa saudade e a nossa esperança de um reencontro com os novos amigos e brothers que deixamos no Nepal seguindo outros caminhos. 
O nosso agradecimento aos amigos do Brasil e de outras partes do mundo que, mesmo distantes, mas sempre presentes, nos quiseram bem e nos apoiaram em todos os momentos. 
À nossa filha que, de casa, acompanhava atônita as travessuras dos seus pais.
Aos nossos Anjos da Guarda que, estrategicamente espalhados por ai, sempre ficaram cuidando da gente. 
Dividam conosco os méritos desta conquista, porque ela também pertence a vocês.

Nos esforçamos muito em compartilhar com os seguidores desse blog cada emoção de nossa aventura, mesmo sabendo ser isso impossível. O caminho ao Everest Base Camp não é para ser lido - precisa ser vivido!
Mesmo assim, esperamos que nossos posts tenham sido agradáveis e divertidos, educativos e emocionantes, inspiradores e instigantes.
Obrigado pela companhia!

Aqui termina esse blog. Até o próximo!
Sergio e Karen. 

terça-feira, 5 de junho de 2012

Namastê bhai


Namastê é um cumprimento ou saudação falada no Sul da Ásia e expressa um grande sentimento de respeito.
Utiliza-se na Índia e no Nepal por hindus, sikhs, jainistas e budistas. Nessas culturas, a palavra é dita no início ou término de uma conversa, acompanhada do gesto feito com as mãos dobradas.
Literalmente significa "curvo-me perante ti"; a palavra provém do sânscrito namas, "curvar-se", "fazer uma saudação reverencial", e (te), "te".
Recentemente, e mais globalmente, o termo namastê foi associado a uma grande variedade de significados complicados e poéticos que se ligam com as origens espirituais da palavra que, resumidamente significam "Eu saúdo o Deus dentro de você."
Na prática, o termo substitui o bom dia, boa tarde, boa noite, olá, até logo e adeus.
Desde que chegamos ao Nepal utilizamos o namastê sempre. Da mesma forma, o Kalu, e posteriormente o Sonam, usavam o namastê conosco.
Com a convivência, percebemos que a saudação começou a ser acompanhada de uma segunda palavra. A Karen recebia um namastê didi, e eu um namastê dajyu. 
Perguntamos o que significavam as palavras didi e dajyu e ficamos sabendo que tratava-se do respeitoso termo referente à irmã mais velha e ao irmão mais velho, os mais importantes na hierarquia familiar depois dos pais.
Significava algo especial e que, comumente, não é dito aos visitantes.
Os nepaleses,  e em especial nossos amigos, são pessoas muito amistosas e ternas. Parece que o jeito expansivo e alegre do brasileiro combina bem com o deles, resultando em um relacionamento muito agradável e pessoal.
A distinção de didi e dajyu nos elevavam a um nível honorário importante de suas próprias famílias. Em contrapartida, bhai significa o irmão mais jovem em nepali.
Pois é assim que queremos nos lembrar de nossa família nepalesa.

Namastê bhai Kalu

Namastê bhai Sonam

Namastê bhai Bhala 

Namastê bhai Ratna

segunda-feira, 4 de junho de 2012

Fechando as malas

Hoje acordamos cedinho para preparar nossas malas para a viagem de retorno ao Brasil.

O Kalu veio tomar café da manhã conosco e trazer umas encomendas que fizemos em Thamel. À tarde retornaria para nos levar ao aeroporto.




No almoço, uma surpresa: O Sonam foi ao hotel se despedir da gente e nos levar alguns presentes. Ganhamos kataks amarelos de seda, com o desejo de uma boa jornada de volta para casa.



O Sonam também nos deu uma tela nepalesa que significa o Círculo da Vida. Chegando a Porto Alegre vamos emoldurar nosso presente e pendurá-lo em local de destaque.


Após uma xícara de chá, a despedida. Uma triste e silenciosa despedida, carregada de emoção. Ao longo do percurso fomos, de certa forma, adotados pelo Sonam que, espontaneamente, resolveu se incorporar ao nosso grupo, deixando o Lodge de Phakding, do qual é o proprietário, aos cuidados dos empregados.

Estávamos todos meio jururus naquele clima de despedida de alguém que há pouco conhecemos e já começamos a gostar e que, muito possivelmente, nunca mais encontraríamos.

De repente, o convite: -Venha nos visitar no Brasil durante a Copa de 2014. E o rosto do Sonam se iluminou. Sim, quem sabe! disse ele feliz, trocando o ar triste por uma expressão de esperança. A atmosfera ficou mais leve com a troca do Adeus pelo Até Breve! E rápido como veio, se foi passando pela porta do salão de chá.

Depois do almoço o Kalu foi ao hotel para nos levar ao aeroporto e aquele clima  meio triste pintou de novo. Dessa vez ganhamos kataks de seda vermelha como proteção para o nosso retorno.

Nas montanhas, quando alcançamos o EBC, demos para o Kalu uma pequena bandeira do Brasil com a data e nossas assinaturas, para pendurar no seu escritório como lembrança.


Agora ele retribuía a gentileza nos oferecendo a bandeira do Nepal para a gente trazer para casa.

Fizemos para ele o mesmo convite feito ao Sonam: - Venha nos visitar no Brasil durante a Copa de 2014!

Ele nos olhou ainda tristemente, com quem diz: - Isso é impossível. Então complementamos: - Até pouco tempo nós achávamos impossível a gente ir até o Acampamento Base do Everest, e acabamos de chegar de lá! Tente, quem sabe você consegue chegar ao Brasil! E, como mágica, o ambiente voltou a ficar alegre e descontraído.

Quando fomos fazer o check-out no hotel, levávamos no pescoço os kataks amarelo e vermelho que ganhamos. O pessoal da recepção olhou para a gente, sorriu, e nos colocou mais um katak de seda, o terceiro, dessa vez da cor marfim.

Com tantos bons eflúvios, nada de ruim poderia acontecer no nosso retorno.

Já no aeroporto, a derradeira despedida do Kalu foi emocionante. Parte da gente queria ficar e parte do Kalu queria ir junto. A Karen não aguentou e se debulhou em lágrimas e o Kalu se despediu e saiu correndo para esconder o choro. Não olhou mais para trás e sumiu na multidão.

Após a imigração encontramos novamente a Parvaneh Kazemi, a summiter iraniana que tinha alcançado o topo do Everest (8848m) e do Lhotse (8516m) na mesma semana. Ela pegou o mesmo vôo nosso até o Qatar e ficamos conversando um pouco com ela sobre o seu feito.

Uma meia hora depois, já recompostos e na sala de espera do aeroporto, trocamos mais algumas mensagens de texto com o Kalu, dizendo o que não foi dito na despedida. Encontramos pessoas e deixamos amigos aqui no Nepal.


A chamada para o embarque, o cinto afivelado e, pouco tempo depois da decolagem, pela janela do avião, as maiores montanhas do mundo mais pareciam miniaturas de uma grande maquete. Estamos indo de volta para casa.

E da minha cabeça não saía a música Encontros e Despedidas do Miltom Nascimento, que diz:

Mande notícias do mundo de lá
Diz quem fica
Me dê um abraço, venha me apertar
Tô chegando
Coisa que gosto é poder partir
Sem ter planos
Melhor ainda é poder voltar
Quando quero
Todos os dias é um vai-e-vem
A vida se repete na estação
Tem gente que chega pra ficar
Tem gente que vai pra nunca mais
Tem gente que vem e quer voltar
Tem gente que vai e quer ficar
Tem gente que veio só olhar
Tem gente a sorrir e a chorar
E assim, chegar e partir
São só dois lados
Da mesma viagem
O trem que chega
É o mesmo trem da partida
A hora do encontro
É também de despedida
A plataforma dessa estação
É a vida desse meu lugar
É a vida desse meu lugar
É a vida...

Último dia em Kathmandu

Hoje vamos para o movimentado bairro comercial de Thamel para as comprinhas de última hora, antes de deixarmos o Nepal.Fomos de táxi, enquanto o Kalu nos esperava com sua moto.

Durante o almoço fomos apresentado a Susama, a namorada do Kalu.

No final da tarde fomos convidados para jantar na casa do Kalu, onde ele iria preparar o verdadeiro e tradicional Dal Bhat com frango, uma oportunidade para eu aprender a receita.


Ratna, o primo do Kalu, sua esposa e filho também vieram participar da noitada.

O irmão do Kalu, que estuda para ser cantor, nos brindou com algumas músicas nepalesas tradicionais.

Em Kathmandu a rede elétrica é precária e os cortes de energia são constantes.

Devido a um apagão que durou cerca de duas horas, parte do nosso jantar foi à luz de velas. Muito mais romântico!

A comida estava saborosa e a noite bem divertida.

De volta ao nosso hotel, um brinde com champagne para celebrar nossa última noite no Nepal e o sucesso de nossa maravilhosa viagem.

Está chegando a hora de desmontar o acampamento e voltar para casa...

domingo, 3 de junho de 2012

De volta à Kathmandu.

O dia amanheceu radiante. Céu de brigadeiro. Nada a ver com os dias anteriores. As pessoas mostravam-se surpresas com a brusca melhoria do tempo. Hoje é o dia em que o nosso vôo de Lukla para Kathmandu está programado. Aeroporto aberto, aberto.

Chegamos no saguão do aeroporto às seis da manhã. O locar estava fervilhante de pessoas e o chão coberto de mochilas e dos equipamentos das expedições, que se acumularam por dias. Somente os iaques não estavam lá dentro. Todos querendo embarcar nos vôos extras colocados pelas companhias aéreas.


Como tínhamos reconfirmado nossos bilhetes para esse dia, tínhamos assento garantido nos vôos regulares. Não chegamos a ir para a Sala Vip, mas fomos passando e deixando para trás aquela turba de trekkers, climbers e summiters desesperados por um lugar no vôo.



Na hora marcada nosso avião decolava do aeroporto mais perigoso do mundo, com destino a Kathmandu. Mais um ponto para o nosso Anjo da Guarda!

De forma geral o nosso vôo foi tranquilo. Quando a aeronave subiu mais alto que as montanhas, as correntes ascendentes de ar deram uma chacoalhada no avião. O Kalu que estava sentado na mesma fila que nós, do outro lado do corredor, estendeu o seu braço e pegou na minha mão. Olhei para o seu rosto e ele estava branco. Em um instante a turbulência passou e ele se recostou na poltrona tentando relaxar.

 


Chegando em Kathmandu, o calor e a poeira, a confusão do trânsito, buzinas, pessoas por todas as partes, vacas paradas no meio da rua, carros, riquixás, tuc-tucs e um bilhão de motonetas nos deu saudades da paz e do silêncio solene das montanhas.


Essa sensação perdurou até chegarmos no nosso quarto do Hotel Tibet International, onde a tranquilidade e o conforto ocidental (jacuzzi included) tomaram conta de nossos pensamentos.

Pela primeira vez em mais de duas semanas, trocamos nossas heróicas botas de trekking por prosaicos pares de tênis. Retirar aquelas botas surradas dos pés simbolizavam o final de algo grandioso. Para nós, elas passaram a representar uma espécie de troféu. As botas que nos levaram ao Everest!

Antes do almoço fomos ao Spa do Hotel, onde recebemos a Trekkers Recovery Massage. Revigorados, almoçamos e retornamos ao quarto para uma merecida e preguiçosa siesta ( durante o trekking tentamos explicar ao Kalu sobre a siesta nos países de influência ibérica, na esperança de adotá-la após o almoço entre nossas caminhadas, mas não colou...).

À noite convidamos o Kalu e o Sonam para jantar conosco no Hotel (sim, o Sonam deu um jeito de ir também para Kathmandu com a gente). Foi um jantar muito agradável, com um triste gostinho de despedida.